Faixa a Faixa #06 – Ment – Backyards Days (2019)

Faixa a Faixa #06 – Ment – Backyards Days (2019)

Pra você que já é fiel da coluna semanal e anseia devorar cada faixa a faixa que eu escrevo, talvez seja apenas mais uma banda. Mas pra grande maioria hoje estarei apresentando ao mundo uma das novidades da cena underground paulistana, a banda de Rock Alternativo/Emo 90: Ment.
Formada por Alexandre Martuscelli na voz e guitarra (SOBRENOME ITALIANÃO MEO BRINCADEIRA BICHO), Fellipe de Alencar (ou só Alencar pros mais íntimos) também na voz e na guitarra, William Gomes no bass (não, ele não é parente do Heitor Gomes ex Charlie Brown Jr/CPM 22) e o grande (força de expressão) Marcelo Müller na batera (como ele é mais sério, sem anedotas). Os rapazes da capital somado ao Martuscelli que é de Pindamonhangaba (ou pinta da goiaba, tanto faz) produziram o seu debut chamado Backyard Days (Dias de quintal, e não é uma referência ao Travis Scott), um álbum corajoso nos dias de hoje onde não se consome tanto álbuns cheios, principalmente de bandas novas e sem um impulso de uma major. Com inspirações de Texas is the Reason, Mineral (inclusive eles foram os felizardos que abriram o show no Brasil desta banda maravilhosa), Hot Water Music, The Get Up Kids, Jawbreaker, Seaweed e uma porrada de banda boa e desconhecida do grande público, o som calcado nos anos 90 é a vibe desses xovens senhores.

Experiência pessoal do escritor: Tive a honra de trazer a banda para o meu bairro periférico no ano passado num evento chamado “Alt-Rock pela Vida” que tinha uma proposta de conscientização e prevenção do suicídio, ansiedade, borderline e outros tipos de doenças psicológicas. Ou seja, o que temos entre nós uma banda super engajada despontando no cenário.

Tá curioso pra saber mais? Então se acomode que agora teremos uma obra particularmente peculiar para vocês, lindos leitores do Ideia Errada:

LINK PARA O ALBUM: 

~insira música de efeito

Faixa a faaaaaaaaaaaaaaaaixa (8)

Yearnings: Antes de dar play na primeira faixa do álbum quero destacar a capa muito bem feita pela Júlia Kaffka (que tive o prazer de conhecer pelo PunkFX, que inclusive me botem lá de novo rapaziada, sinto saudade) dando esse clima de rock descontraído de domingo, mesmo sendo um som emo, dá uma vibe de metrópole ensolarada. Com uma intro cantada e uma guitarra barulhenta (no bom sentido), o nosso italiano favorito entra com uma urgência nos vocais e toda aquela sonoridade anos 90. Tem um drop interessante e inesperado bem melódico já no primeiro verso, dá vontade de cantar junto. Cai num refrão gostoso. Se eu tivesse 10 anos pegaria minha lancheirinha do Ben 10 e sairia bem feliz com meu walkman esperando o tio da perua me buscar pra ir a escolinha. Simplesmente nostálgica.

Avaliação: Canção boa. Uma boa abertura.

NO MEU FONINHO TOCANDO MENT EU SAIO ASSIM Ó

Acceptance Letter: Um dos singles da banda, com um clipe bem irreverente até. Tem em sua letra uma mensagem que bate forte, de aceitar perdas. O Rock alternativo nessa canção ta nas entranhas de cada acordes, camadas de voz, vibrações sonora, chega a exalar o cheiro da angústia do jovem adulto. O Ment não é uma banda própria pra adolescente, o peso da dor carregado na voz do Martuscelli e em seus versos precisa de um entendimento de vida maior pra compreender por completo a ideia que está sendo passado aqui. Ultra necessário pra você que se identifica com letras extremamente pessoais.

Avaliação: Canção boa.

“But reasons are beyond my abilities
I’ll try not to choke
But reasons are beyond my abilities
I’ll try not to choke

In the end I’ll see me putting that into words
The most heavy words
An acceptance letter for the worst”

“Mas as razões estão além das minhas habilidades
Vou tentar não engasgar
Mas as razões estão além das minhas habilidades
Vou tentar não engasgar

No final, eu vou me ver colocando isso em palavras
As palavras mais pesadas
Uma carta de aceitação para o pior”


Toda satisfação de Lucas Carmo (Vocal da Lights Out fazendo feat no clipe) em aceitar o pior (sim, esse gif não fez sentido)

Fitzgerald Can’t Be Wrong: Se Fitzgerald falasse que essa música é incrível ele não estaria errado (BA DUM TSS). Riffs certeiros e simplistas dão o tom aqui, mantem a coerência da estética sonora apresentada, mas quero destacar as letras bem escritas e o bom gosto pra melodias. Destaque pra banda que é muito precisa e coesa em fazer as passagens e o breaks de uma forma sutil e de muita qualidade. Essa é uma das que reflete bem a capa do disco, papo de sentar num tijolo, ver o sol torrar naquele quintal feito de caquinhos estilo casas antigas dos anos 50/60/70, tomar um caipirinha e ver o Ment tocar ao vivo. (Inclusive se for fazer esse rolê me chamem)

Avaliação: Ótima canção.

Unavoidable: A única música do disco escrita pelo nosso querido Alencar (que graças a Deus não é o mesmo que tomou 7×0 do Vasco jogando pelo São Paulo) é a mais emo até aqui. Tem muito de The Get Up Kids nesses acordes, Marcelo está muito bem em suas levadas coesas. A vibe é de trilha sonora de documentário de viagens americanos ou daqueles de trilha que passam no canal OFF. Canção curta, mas passa um ar de despojado.

Avaliação: Canção boa, poderia ser maior.

Nine: A faixa 5 que se chama Nine (e não tem a ver com o álbum do Blink, que já resenhei aqui) e tem 3 minutos e 51 segundos tem uma boa intro na bateria e um riff gostoso das guitarras. Talvez a letra que mais me pegou de jeito, afinal, assumir erros nunca é fácil. A canção é um alivio feito em harmonias brandas e confortáveis. Tem a melhor harmonia do disco e consequentemente um dos melhores refrões. Encerra com um mini solo e escolhas não tão óbvias assim da “cozinha” nos brindam com um som pra ouvir no cotidiano.

Avaliação: Excelente canção; A melhor do disco.

“I assumed my fault and kept doing the old same mistakes
To fill my heart, to fill all the empty places

I assume my fault, instead of feeling I’ve been drinking much these years
I assume my fault, sincerity wasn’t that easy”

“Eu assumi minha culpa e continuei cometendo os mesmos erros antigos
Para preencher meu coração, para preencher todos os lugares vazios

Eu assumo a minha culpa, em vez de sentir que tenho bebido muito esses anos
Eu assumo minha culpa, sinceramente não foi tão fácil”

ESSA CANÇÃO TA DEMAIS GENTE, to (emo)cionante

Mutual Indifference: Essa me lembra muito Hot Water nos tempos áureos, som gringo, poderia muito bem ter sido feito e lançado nos anos 90 que seria hit underground médio porte. Ótimo vocal, ótimas escolhas de harmonias e melodias, timbre bem garageiro das guitarras, a energia dessa aqui no show de festival deve ser grande. Tocaria fácil numa Kiss FM da vida. Por último e não menos importante venho novamente destacar a letra com versos que dilaceram qualquer coração inquieto. Se o Zander diz que “a gente muda e ainda bem” com essa do Ment eu começo ver certos aspectos sobre mudança de uma forma pessimista. Enfim, o impacto pode ser grande meu xovem, vá com calma nessa aqui.

Avaliação: Ótima canção, uma das melhores do disco. Mas tenha calma

“Simple thoughts, I can’t remember a thing
Weird images go round and round
The smile I saw that day in september
It wasn’t happiness, just pure convenience

Wish me luck, I feel stronger now
People move, they change
Friends become strangers

Mutual indifference
These times
We’re apart”

“Pensamentos simples, não me lembro de nada
Imagens estranhas dão voltas e voltas
O sorriso que vi naquele dia em setembro
Não era felicidade, apenas pura conveniência

Deseje-me sorte, me sinto mais forte agora
As pessoas se mudam, elas mudam
Amigos se tornam estranhos

Indiferença mútua
Esses tempos
Estamos separados”

TENHA CALMA RAPAZ

Meerhout, 2013: Tive que googlar pra saber que raios era Meerhout e descobri que é uma cidadezinha na Bélgica. A letra deve ser um reflexo de alguma viagem do incansável Alexandre e o seu diário de bordo fora confessado em forma de poesia nestes versos tristes de nostalgia, lembrando-se de um tempo bom (que não volta nunca mais, E sim! To reciclando piadas velhas de outros Faixa a Faixa). Foi o primeiro single do Ment e foi com ele que conheci a banda. Entra com um baixo bem melancólico, não tenho certeza se foi regravado, mas os vocais me soam mais definidos e mostrando mais ao que veio. Tenho uma leve sensação de Smashing Pumpkins no Siamese Dreams/Hot Water Music no A Flight of the Crash nesta canção em específico. Ótimo riff e backing vocals certeiros do Alencar aqui. Melhor refrão do álbum. Termina com o baixo do mesmo jeito que começou.

Avaliação: Ótima canção, uma das melhores do disco.

Como eu imagino que seja Meerhout haha

Boulevard V. Noir: Quando o Lulu Santos fala no The Voice Brasil pros candidatos passarem sua verdade na hora de cantar pode soar piegas ou algo pra encher linguiça num programa de calouros. Mas o que se vê aqui é uma coisa que falta em muitas bandas (e cantores) hoje em dia: sinceridade. Essa é daquelas que arrepia pelo acorde tocado, pelo tom de voz confessional, pela emoção na medida do riff cavado da guitarra, da força que o Marcelo coloca nos seus pulsos pra tirar o melhor som de sua bateria, ou o William na precisão do seu Fender Jazz Bass emprestado pra gravação (amigos rycos são para essas coisas). Só falo uma coisa: Tu tem problemas no seu cotidiano? O Ment vai te abraçar, expor suas feridas e vai ajudar a cicatriza-las, a síntese disso tudo está nessa canção.

Avaliação: Excelente canção, a melhor do disco empatada com a Nine

XABLAU

Skipping Phrases: O Alexandre dá a impressão que ele é aquele nosso amigo nerd da escola que mostra seu diário com todos seus devaneios, sonhos, inquietudes e vontades veladas. A dificuldade de externar isso e coisas que todo mundo já passou. Eu posso falar da boa intro do Marcelo (como em todas as canções) o baixo coeso mais uma vez, as guitarras com riffs simples bem noventista e a angústia na voz procurando uma saída para os problemas. Mas nada vai sintetizar mais do que o exemplo já dito acima. Essa música é quase que um segredo mostrado aos amigos de maior confiança. Portanto, não desperdice nem ignore a importância do que o Ment quer passar nesta canção.

Avaliação: Canção boa.

Untitled: A última música do disco não tem título, mas tem uma síntese do que a banda quis passar ao longo do full apresentado. Com poucos versos e muito instrumental de harmonias assertivas, destaque vai pra cozinha baixo e bateria, riffs bonitos e as melodias vocais coerentes. Essa força para se desprender do passado descrita em detalhes só aumentam a beleza musical e encerra de forma magistral essa jornada com muita verdade e sinceridade exposta.

Avaliação: Ótima canção. Bom final de disco

Você pode rotular como quiser, pode achar que é só uma banda saudosista de um som que não é mais comercializado nas grandes massas, que falta um grande hit, que a banda precisa cantar em português para um melhor entendimento. No fim você terá que tirar o chapéu pra essa nova (velha) banda que te traz momentos de reflexão, nostalgia, existencialismo e porque não raiva e melancolia? Música é feita pra mexer com as nossas mentes e nossos corações. E em um pouco mais de meia hora a trupe do Martuscelli (parece nome de seriado noventista da Cartoon Network) consegue chacoalhar nossas almas com maestria. Seja em suas letras, seus riffs ou a verdade que exala em cada nota musical apresentada. Pois bem, esse é o Ment e seu cartão de boas vindas. Muito prazer!

Ulisses Avelino
Músico, Compositor, Historiador e Crítico nas horas vagas

Organize sua ment (e) e beba água. Um beijo pra todos que leram até aqui

Escrevam nos comentários o que você achou desse faixa a faixa.

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