Faixa a Faixa #04 – William DuVall – One Alone (2019)

Faixa a Faixa #04 – William DuVall – One Alone (2019)

Ter o dom de substituir uma das maiores vozes da geração 90 não é pra qualquer um. Colocar personalidade num trabalho sólido por décadas e criar novos clássicos com novos lançamentos é mais difícil ainda. Mas ele conseguiu.
Com um ar de cantor de barzinho (mas daqueles tops da Lapa/Vila Madalena/Perdizes OLOKO MEU TU É BAIRRISTA BICHO) no melhor estilo versátil, William DuVall, um nome desconhecido do grande público até entrar e substituir ninguém menos que Layne FUCKIN’ Staley no front do Alice in Chains, lança seu primeiro trabalho solo.

Ele teve projetos anteriores como Neon Christ e Comes With the Fall, mas todo mundo espera algo parecido com o que ele lançou nos seus 13 anos de AiC (o tempo passa bicho). Com uma vibe mais folk e introspectiva, no melhor estilo “volta as raízes”, Will (pros mais íntimos) lança One Alone (como o nome sugestivo diz, só ele memo parça) e hoje eu trago minha análise bem aprofundada e extremamente técnica (p*rra nenhuma) pra vocês, lindos leitores do Ideia Errada, no seu quadro favorito:

~imagine uma vinheta com aquele tecladinho de karaokê (aquele que tinha o leãozinho)

FAIXA A FAAAAAAAAAAIXA. (8)

Til the Light Guides Me Home: O single que abre o disco começa com um dedilhado soturno, e para os ouvidos mais atentos percebe-se que o violão vem com uma afinação diferente da usual, dando esse ar mais “dark” mesmo. Quando uma voz belíssima e aguda presenteia os nossos ouvidos, temos a sensação de que estamos pegando um ônibus de viagem com um violão nas costas e vamos sair por ai para viver altas aventuras (esse final ficou muito narrador Sessão da Tarde anos 00). Refrão tem uma mudança repentina na harmonia, causa uma sensação de bem estar. Bom drop de solo pro final da cancão. Eu daria 10 conto se visse o DuVall cantando essa musica na rua (que muquirana eu sou hahaha).

Avaliação: Ótima abertura. Ótima canção. Uma das mais bonitas do discos.

The Veil of All My Fears: Dedilhado dissonante mega soturno, bebendo da fonte de sua banda grungera. Letra forte (uma qualidade ímpar de todo álbum) sobre desilusões amorosas, de uma forma profunda. Novamente refrão com harmonias não tão usuais, uma beleza rara para artistas que amam esse formato voz e violão. Interlúdio vai crescendo e você fica sem saber para onde a música vai (no bom sentido). Mano, tu tem noção que é só o DuVallzão, um violão e GOD parceiro??? Incrivelmente f*da. Um dica: abre um vinho e bota pra rolar na vitrolinha que essa é uma obra pra ouvir e se impressionar. Pagaria 2 ingressos só pra ver essa canção

Avaliação: Excelente canção. A melhor do disco. Simples assim

EU CANTO MÚSICAS TRISTES SORRINDO GENTE

“So much pain I can’t explain
But through it all, my love remains
I’m calling out, calling out
Calling out to you, though it’s in vain”

Tanta dor que não consigo explicar
Mas apesar de tudo, meu amor permanece
Estou gritando, gritando
Gritando por você, embora seja em vão

The 3 Wishes: Ah, o som do violão de aço bem tocado. É de ter uma síncope fácil. Excelente introdução, música de beira de estrada, me sinto no Sons of Anarchy ou no filme Easyrider quando eles param no sul dos Estados Unidos e tem um bar sujo, com muito whisky bourbon, motos Harley Davidson e um artista desconhecido mandando brasa. Destaque pra dificuldade de execução do dedilhado com os tons do vocal limpo e firme do menino Will. Refrão bão. Tem um breakdown bem Alice in Chains no melhor estilo “The Devil Put Dinosaurs Here”, bem feito pra caramba. Interlúdio interessante antes do final.

Avaliação: Canção boa.

PEGA SUA MOTO E SEJA LIVRE IRMÃO!

Strung out on a Dream: Já ta emocionado xovem? Então ouve essa aqui. Que letrão mano. Dá vontade de tomar umas canas e gritar: “VOLTA JUDITE/JOÍLSON (aqui somos inclusivos) EU AINDA TE AMO, EU VENDO A MERDA DO MEU DEL REY 84 E PROMETO NÃO GASTAR MEU SALÁRIO NA CACHETA”. Se fosse brasileiro com certeza William DuVall cantaria essa no É de Casa, com Patricia Poeta, André (DEIXA OS GAROTO BRINCA) Marques e Cissa Guimarães emocionados. Piadas a parte, essa música é de sua antiga banda Comes With the Fall. Destaque pros dedilhados e notas dissonantes não usuais pelos cantores desse estilo. Lembra Chris Cornell no seu disco Songbook.

Avaliação: Ótima Canção.

André Marques dj

“DUVALZÃO MANDANDO BRASA FAZENDO EU LEMBRAR DA MINHA QUERIDA NITERÓI
cidade sorriso”

White Hot: Mais uma de seu antigo projeto. A canção começa com um riff Alpha FM (se você é de São Paulo vai entender essa piada) no melhor estilo Leoni em Garotos II (prevejo fãs do Alice in Chains querendo me matar depois dessa referência). Verso ok, nada muito chamativo, mas a vibe do disco ta tão boa que tu vai curtir na tranquilidade. Afinal, nesse momento seu vinho Cabernet Sauvignon ta no final mesmo. Refrão tem uns agudos incríveis. Repetidamente venho aqui dar destaque as harmonias diferenciadas. O cara é rei nisso! Aliás, o destaque aqui (e talvez em todo disco) são os refrões super melódicos e até exibicionista do rapaz de Washington D.C.
Tem hora que você acha que o Will vai peidar e não vai atingir o tom, mas o cara é um fdp (no bom sentido, sempre).

Avaliação: Canção boa.

Still Got a Hold my Heart: Intro MUITO soturna pra uma letra mais soturna ainda. Tem plot twist atrás de plot twist e isso é só a intro. Reiterando que é um disco voz e violão, e fazer isso é muito difícil. Hoje não é seu aniversário DuVall, mas cê ta de parabéns meu.
Voltando a canção, mais uma reformada de sua antiga banda (tu ta lendo tanto sobre ela que vai procurar) letra muito fossa, como se atravessasse seu belo coraçãozinho grungero. Refrão mega roqueiro, sentimental, visceral e perfeito. Obrigado você que deu um pé na bunda do nosso menino Will, deu pra ver que ele está sofrendo mesmo. Pelo menos saiu esse petardo (no sentido de explosão ou um chute forte, se você for de Portugal não to falando de flatulência).

(Aliás, que vocabulário primoroso! Valeu professora Lucilene do Ensino Médio, você era top!!!).

Avaliação: Excelente canção. Excelente vocal. Excelente tudo. Uma das melhores do disco.

O PETARDO QUE VOCÊ IMAGINOU

O QUE EU QUIS DIZER (e nenhum fez sentido até agora haha)

“Just like the sky surrenders the rain falling down
I keep on flying and crashing that plane into your killing ground
Every explosion knowing my soul is glory-bound
Then you can write on my grave that the love I gave you
Saved you while I slowly drowned, yeah”

“Assim como o céu se rende a chuva caindo
Eu continuo voando e colidindo com aquele avião no seu campo de extermínio
Toda explosão que conhece minha alma está ligada à glória
Então você pode escrever no meu túmulo que o amor que eu te dei
Te salvou enquanto eu lentamente me afoguei”

Smoke and Mirrors: Advinha? Sim! Mais uma da época de Comes With the Fall. Mas ok. Intro maneirosa de violão de aço, voz primorosa, canção pra cantar bêbado lembrando da cremosa. DuVall novo símbolo do emo, mó fossa boa. To cansado já de falar que o refrão é bom. Meu Deus do céu, poupe-nos (poupa não) da sua sabedoria musical, é muita qualidade gente, pqp. Dá vontade de dar uma surra nele. Não sei lidar com tanta qualidade e riqueza musical. BROTHER TU SÓ TA COM UM VIOLÃO E TA TIRANDO MÓ SONZERA, QUE RIFFS SÃO ESSES TIO.

Avaliação: Ótima canção.

So Cruel: (Antes de ler essa, imagine eu cansado falando que é mais uma canção do Comes With the Fall). Novamente intro com 200 plots twist e riffs que deveriam ser estudados pela próxima geração. Tem um pós refrão brabíssimo. Vocal estridente com tudo que já conhecemos do nosso vocalista querido. Quando você acha que ele não pode mais nos surpreender, ele faz uma vocalização junto a seu violão em notas agudíssimas. O cara come música com farinha, não é possível. Eu só tenho um único recado pro DuVall depois dessa música: Relaxa, você não é cruel não, cê é daora. Está nos entregamos um disco incrível de cabeceira.

Avaliação: Ótima canção.

Chains Around My Heart: A gente sabe que o “Chains” está em volta do seu coração (QUE PIADA RUIM MERMÃO). Mas na boa Will, acho que você ouviu o disco do Leoni, essa levadinha de violão ta muito característica. Brincadeiras a parte, a música realmente lembra as baladas do Alice in Chains e umas coisas que talvez o sr. Cantrell gostaria de trabalhar num dueto maneiro. Senti falta de uma banda acompanhando nesta aqui. Nada que prejudique a experiência.

Avaliação: Canção boa.

PODIA TA BATENDO CABELO NESSA WILLIAM, MAS TU JOGOU ESSA PRO PROJETO SOLO

Keep Driving Me Away: Intro cantarolada junto a seu eterno parceiro de 6 cordas. Cara de hit. Lindíssima melodia, tem um ar sexy. Qualidade acima da média realmente. Plot twist pro pós refrão na harmonia. O dinamismo que o ex front do Neon Christ (achou que eu ia falar do Comes With to Fall de novo né) consegue é algo pra ser estudado. Que vocal absurdo. Tem toda uma riqueza de detalhes, simplesmente magnífico. Final da canção em fadeout muito lindo. Na moral, você não merece palmas William DuVall, merece o Tocantins inteiro! ❤

Avaliação: Excelente Canção.

QUE MARAVILINDO ESTA CANÇÃO

Waiting out the Breakdown: A canção que fecha o disco (que passou como um relâmpago, de tão gostoso de ouvir que é) vem com um vocal meio soul e riffs certeiros, uma mega balada com um refrão incrível (mantendo o alto padrão do disco) de harmonias não usuais (de tanto eu falar virou usual) e uma riqueza no encaixe das palavras e do flow exercido no pós refrão. Letra bacana, mas o destaque com certeza é a emoção passada em cada emissão de som, quase um abraço sentimental em forma de riffs, letras, melodias e harmonias. Eu tenho que olhar no dicionário para achar novos adjetivos positivos pra elogiar toda esta obra. Ainda bem (ou não) que é a última música do disco, pra fechar com chave de ouro.

Avaliação: Excelente Canção, uma das melhores do disco.

NUM FALEI duvall

Pra quem tinha dúvidas de que seria um mix de sentimentos ouvir esse álbum, ao chegar na décima primeira música dessa magnífica experiência sonora eu só consigo pensar em uma coisa: Obrigado William DuVall pela sua carreira solo. Você veio numa contramão quando assumiu os vocais do Alice in Chains, fazendo algo bem original, diferente do que o público em geral estava acostumado a ouvir na banda, e mesmo assim tu conquistou seu espaço e consolidou seu trabalho com guitarras firmes e riffs agressivos. Trocar toda aquela camada sonora de uma banda de rock pra buscar uma sonoridade simples, mas de uma riqueza ímpar não é pra qualquer um. A diferença é que você não é qualquer um, muito menos apenas o substituto do Layne Staley. Você é William DuVall, ponto. E lançou, sem sombra de dúvidas, o melhor álbum folk de 2019.

Ulisses Avelino
Músico, Compositor, Historiador e Crítico barato nas horas vagas.

Pra todos os fãs do Ideia Errada e da nossa coluna semanal. Um beijo pra todos que leram até aqui

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