Cobra Kai é Ruim mas é Legal (com spoilers)
Eu costumo dizer que Cobra Kai é Malhação com porrada (apesar de já ter existido temporadas de malhação onde houve foco em lutas como em 2014 com a Isabella Santoni ou lá no começo quando tinham os jiujitero porradeiro). É um grande novelão com intrigas superficiais entre adolescentes incitadas por hormônios e adultos que não tiveram coragem de fazer uma terapia para resolverem seus problemas.
A sexta e última temporada conseguiu fazer até agora um apanhado de todos os absurdos que sempre me dão gastura e um ataque de desconforto quando vejo. Eu sei que é chato ficar cobrando verossimilhança de uma série que é entretenimento, mas o fato da série ter momentos que ela se leva à sério faz com que os momentos de absurdo se destaquem. Se fosse puramente galhofa e deixasse claro que era isso, tudo bem, não teria motivos para reclamar, mas não.
Podemos começar com o que citei na introdução: adultos problemáticos que não buscam ajuda. Não que eu não ache que isso exista, muito pelo contrário, mas o que me incomoda é o fato da série destacar que todo mundo lá é traumatizado e mesmo assim conseguem criar e manter relações estáveis. Isso é literalmente impossível, nunca que um cara como o Johnny Lawrence (William Zabka) conseguiria uma namorada. A mesma coisa para o John Kreese (Martin Kove) e Terry Silver (Thomas Ian Griffith), dois VELHOS que ao invés de reconhecerem seus problemas emocionais e se isolarem preferem descarregar toda a amargura deles nos outros.
Três véios que se recusam a fazer terapia ou ir numa igreja
Saindo do trauma dos adultos e passando para traumas infantis, o casal mais blasé água com açúcar e sem talento de atuação nenhum, Robby (Tanner Buchanan) e Tory (Peyton Roi List) não me descem. Basicamente a trama dos dois é eles estarem a todo momentos divididos entre duas escolhas: um lado onde você vai ter algum apoio e suporte (mais ou menos) emocional e o outro lado que é uma grande pilha de merda. Os dois acabam sempre escolhendo a grande pilha de merda.
Outro ponto interessante da série é a falta de autoridades nesse universo. Desde a cena da porradaria na escola até o final da mid season da 6ª temporada a gente só teve conhecimento das autoridades duas vezes: quando o Kreese foi preso e quando fecharam o dojô do Johnny lá no começo da série. Fora isso nunca aparece um policial, bombeiro, tropa de choque, segurança, pai responsável, nada (o mais próximo nessa mid season foi o ÁUDIO de uma sirene que coincidentemente estava passando pelo local da confusão). Tudo bem que a negligência por parte das autoridades públicas é comum na vida real, mas ninguém nunca tenta abrir um boletim de ocorrência ou busca por uma medida protetiva, nada.
Eu não posso terminar sem destacar uma cena que me deixou maluco nesta 6ª temporada. Pouco tempo antes do Daniel LaRusso (Ralph Macchio) ser sequestrado ele anda por umas ruas “perigosas” em Barcelona procurando por pistas do Sr. Miyagi. Digo “perigosas” entre aspas porque não existe perigo em Barcelona. A filmagem e edição tenta deixar o lugar sombrio e assustador quando todas as ruas estão limpas e só tem absolutamente uma pichação na cena inteira. Claramente os produtores não sabem como é a Zona Oeste do Rio de Janeiro pra achar que um lugar daqueles seja perigoso.
Dito tudo isso, a série ainda é divertida. Ver todo esse draminha adolescente, apesar de achar tudo muito estúpido, é legal, as sequências de luta mesmo sendo completamente absurdas e sem compromisso nenhum com a realidade, valem a pena pela espera.